Agência Rio de Notícias

domingo, 28 de março de 2010

SEPETIBA NA ROTA DA INDEPENDÊNCIA

De Sinvaldo do Nascimento Souza


Sepetiba, o antigo povoado dos pescadores (...) testemunhou encontros importantíssimos que precedem o périplo de independência do Brasil.Depois da chamada “Revolução Liberal” da cidade do Porto, deflagrada em Portugal no ano de 1820, o rei D. João VI que se encontrava no Brasil foi obrigado a retornar para a Europa, correndo sério risco de perder seu lugar no trono.As “cortes lusitanas”, por sua vez, deram início às primeiras medidas que objetivavam reconduzir o Brasil à sua anterior condição de mera colônia subordinada aos interesses da metrópole.
As conquistas granjeadas ao longo de mais de doze anos, não se restringiram ao plano sócio-econômico-cultural ; determinados brasileiros, entre os quais os irmãos Andradas, não estavam mais dispostos a viverem sob o jugo das Cortes portuguesas, o que deixava claro que tais conquistas também se faziam sob o aspecto político.

Sepetiba, testemunha, já em Dezembro de 1821, a passagem de um emissário: Pedro Dias Pais Leme – que vindo do Rio de Janeiro seguiria em direção à província de São Paulo.Com a chegada dos decretos autoritários provenientes das “cortes lusitanas” e o aprestamento da fragata “União” que deveria reconduzir o príncipe regente (D. Pedro I) a Lisboa, foi iniciado no Rio de Janeiro um movimento que se destinava a receber assinaturas objetivando pleitear que D. Pedro I permanecesse no Brasil, o que já seria “um bom passo em direção da independência”.
Enquanto Paulo Barbosa da Silva era enviado a Minas Gerais, Pedro Dias Pais Leme seguia para São Paulo:

“ ... viajando a cavalo até Sepetiba e servindo-se de barco a vapor, provavelmente um dos primeiros introduzidos no Brasil, na viagem daí até Santos (ou de simples canoa, como asseveram muitos historiadores) Pais Leme chegou a São Paulo na noite de 23 de Dezembro de 1821 (...)”

Eis que entra em cena José Bonifácio de Andrada e Silva, cognominado “o patriarca da independência”, mas rechaçado por muitos quanto a essa lisonja, em particular por determinados setores da Maçonaria. Coube ao sexagenário santista redigir, com grandiloqüência exigida pelo estilo de época, uma carta, que bem definisse a disposição dos brasileiros, em particular, dos paulistas, de não se intimidarem mais perante a metrópole.A carta, sem qualquer exagero, pesava como uma declaração de predisposição à independência.

Dizia o velho Andrada, entre outras coisas: “(...) V.ª real deve ficar no Brasil quaisquer que sejam os projetos das Cortes constituintes não só para nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo Portugal. Se V.ª real estiver ( o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso decreto de 29 de Setembro, além de perder para o mundo a dignidade (...) homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno número de desorganizadores,terá também que responder, perante o céu, do rio de sangue que decerto vai correr pelo Brasil (...)”
D. Pedro I ficou entusiasmado com aquela missiva, tanto que determinou logo a sua divulgação, embora a publicação somente fosse ocorrer no dia 8 de Janeiro (véspera do “dia do Fico”) nas páginas da “Gazeta do Rio”.

Os Paulistas não ficaram satisfeitos com apenas o envio daquela carta e logo nomearam quatro representantes para entregarem, no Rio de Janeiro, uma representação a D. Pedro I. Provenientes de Santos, viajaram embarcados em um navio a vapor até Sepetiba, onde chegaram em 17 de Janeiro. “ Sepetiba, como se sabe, fica perto de santa Cruz, local da antiga fazenda dos Jesuítas, incorporada aos bens da coroa, que D. João VI tanto freqüentava e de que D. Pedro I também muito gostava. Na ocasião da chegada de José Bonifácio e de seus companheiros, havia em Sepetiba, por causalidade, um carro de posta e nele partiram os viajantes em direção a Santa Cruz, tornando assim desnecessários os cavalos mandados pela Princesa D. Leopoldina, então refugiada com os filhos na fazenda real, em conseqüência de perturbações da ordem no Rio de Janeiro”.

Aliás, é bom que se diga que a fazenda de Santa Cruz, serviu , no I império, pelo menos uma outra vez para proteger a família Imperial: em 1831, quando os ânimos se acirravam contra o já imperador D. Pedro I, foi cogitada a vinda do monarca para cá e daqui organizaria uma resistência, o que não se concretizou, pois D. Pedro I resolveu abdicar o trono em favor de seu filho.

Foi em Sepetiba o encontro de José Bonifácio com D. Leopoldina, embora alguns historiadores afirmem que esta reunião teria sido realizada na sede do palácio imperial em Santa Cruz. Octávio Tarquínio de Sousa, na sua biografia de José Bonifácio afirma:

“A primeira mulher de D. Pedro I, dada a estudos de ciências naturais e seduzida pela causa da emancipação brasileira, deveria entender-se muito bem com José Bonifácio. Esperando a representação paulista, já no dia 16 ( Janeiro de 1822) D. Leopoldina estivera em Sepetiba, e , ainda para recebe-la, fazia no dia seguinte a mesma viagem a cavalo quando, no meio do caminho, entre santa Cruz e aquele lugar, a encontrou. Os paulistas e D. Leopoldina entretiveram conversa bastante cordial, sendo que a princesa não conteve o seu “sumo contentamento”, para repetir a expressão de documento oficial que resumiu as minúcias do encontro."

Já na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1822 José Bonifácio e demais membros da comissão proveniente de São Paulo partiram para o Rio de Janeiro onde D. Pedro os aguardava.
O simples transito por Sepetiba de personalidades que participaram diretamente e efetivamente de fatos históricos que culminaram com a proclamação da independência do Brasil, já constituem exemplos edificantes para serem observados por todos os sepetibanos que lutam por melhores condições econômicas, culturais e sociais para aquele antigo povoado, colônia de pescadores (...).

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